Culinária ajuda turistas a conhecerem a cultura do país de forma mais autêntica e imersiva, dizem especialistas
O turismo e a gastronomia sempre andaram de mãos dadas. Em produções audiovisuais de sucesso, como a série “Emily em Paris” e o filme “Comer, Rezar, Amar”, as protagonistas aproveitam para conhecer um pouco mais da cultura de novos países por meio de experiências gastronômicas.
Esse é o lema entre viajantes que apostam no chamado turismo gastronômico, uma modalidade de viagem centrada na exploração da comida e bebida de um destino turístico, capaz de conectar o visitante à cultura local por meio da culinária.
Informações divulgadas pela Associação Brasileira de Operadoras de Turismo mostram que a busca por experiências culinárias imersivas tem influenciado a escolha de destinos turísticos. Isso acontece porque a comida tem forte relação com a cultura dos países, o que possibilita explorar de forma sensorial e autêntica o destino escolhido.
O turismo gastronômico é tendência no setor de viagens. Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a modalidade marca o interesse dos turistas em saborear pratos, bebidas e ingredientes de diferentes regiões, mergulhando na cultura dos países.
Gastronomia está entre os principais interesses dos viajantes
Para a criadora do blog Viaja que Passa, Maria Fernanda Moro, a gastronomia vai muito além do paladar e pode trazer percepções únicas sobre o destino turístico escolhido pelo viajante.
“A gastronomia é um dos jeitos mais diretos de conhecer a cultura de um destino. Um prato conta muito sobre a história local, os ingredientes típicos e até sobre a rotina das pessoas que vivem ali. Experimentar a culinária vai além de ‘comer bem’: é uma forma de se conectar ao lugar de maneira autêntica, seja em um restaurante estrelado ou em uma simples feira de rua.”
Essa conexão tem mudado o perfil de quem decide qual destino visitar: o sabor local pesa tanto quanto monumentos, museus e paisagens. Um levantamento realizado pela Organização Mundial do Turismo (OMT) mostra que a gastronomia é a terceira maior motivação para os turistas visitarem um destino, ficando atrás apenas do interesse cultural e da observação da natureza.
Destinos valorizados no turismo gastronômico
Quando o assunto é culinária e turismo, há países que se destacam. O relatório do Culinary Tourism Market Analysis aponta que Itália e Japão respondem por uma parcela significativa do mercado europeu de turismo gastronômico, com milhões de visitantes planejando rotas de comida e vinho a cada ano.
Na Itália, além das famosas pizzas napolitanas, das massas a carbonara, das lasanhas al ragù, dos gelatos artesanais e das bruschettas, outros pratos também chamam a atenção. Regiões como Toscana, Emilia-Romagna e Puglia se destacam pela oferta de experiências em vinícolas, fazendas, mercados locais e restaurantes que se orgulham de produzir seus próprios ingredientes.
Quando viajantes planejam roteiros gastronômicos, a escolha de onde se hospedar em Milão pode fazer toda a diferença para a imersão na cultura local. Optar por regiões próximas ao centro histórico ou ao distrito de Navigli, por exemplo, permite explorar trattorias tradicionais, cafeterias premiadas e mercados de rua que revelam o coração da culinária italiana.
No Japão, a culinária chama atenção por conta de ingredientes frescos, como peixes e vegetais, apresentação artística dos pratos e respeito à sazonalidade.
Outro destino que pode atrair visitantes por conta da gastronomia é a Espanha. A gastronomia na região é diversificada, com forte influência da dieta mediterrânea e grande variedade de peixes, carnes, legumes, azeite e especiarias.
Escolher onde ficar em Barcelona ou outras cidades do país pode abrir portas para experiências completamente diferentes. Hospedar-se em El Born ou no bairro Gótico significa ter acesso imediato a bares de tapas, mercados como La Boqueria e restaurantes estrelados que convivem com tascas familiares. Já em Gràcia, a atmosfera mais boêmia favorece o contato com cozinhas autorais e espaços de vanguarda gastronômica. Cada bairro oferece um universo de sabores que impacta diretamente a experiência final da viagem.
Muito além da gastronomia
Os destinos que investem sério em turismo gastronômico sabem que não basta o prato bem servido, aspectos como infraestrutura, bom atendimento, ambientação e logística contam tanto quanto o sabor.
“Quando falamos em turismo gastronômico, é importante que exista adaptação dos dois lados. Muitos países europeus, por exemplo, não são conhecidos pela cordialidade no atendimento, principalmente se compararmos com o Brasil. Mas se a proposta é atrair turistas para experiências ligadas à gastronomia, também é preciso ter certo jogo de cintura para que a visita não se transforme em frustração”, destaca Maria Fernanda Moro.
Ela destaca, ainda, que para evitar problemas, o turista deve fazer o “dever de casa” antes da viagem. Entender a cultura do atendimento no destino, pesquisar sobre os pratos locais, os ingredientes típicos e questões como o hábito ou não de dar gorjeta fazem a diferença.
“Essa abertura para novas práticas ajuda a aproveitar melhor a experiência, expandir o paladar e se surpreender positivamente com sabores e tradições que vão muito além do que já conhecemos”, finaliza.